terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O Boi de carro enfadado

 De repente a construção
está precisando barro
o carreiro enche o carro
que a roda afunda o chão
conduz ainda um ferrão
do bico bem afiado
fura no lombo e de lado
quando o peso nao aguenta
ainda apanha na venta
o boi de carro enfadado.

Pra que o homem conheça
que o peso está demais
a boiada olha pra trás
funga e balança a cabeça
como quem diz: - Não esqueça,
esse carro está pesado,
o meu casco está furado,
e dói no lugar da canga
carreiro bom não se zanga
com boi de carro enfadado.

Boiada nenhuma fala
mas bem que raciocina
não consome gasolina
pra num topete ajudá-la
se o dia cai numa vala
fica o boi aperriado
temendo ser judiado
por ferrão, vara e chibata
so falta dizer: -Não bata
no boi de carro enfadado.

Tem carrero que não sabe
o peso de uma carroça
quer que a boiada possa
com tudo que ela cabe
não quer nem que o boi babe
com o canzil apertado
o boi no chão escornado
não chora por não ter pranto
mas pensa:- Não judei tanto
com o boi de carro enfadado.

Eu também ja fui carrero
mas era compreensivo
que o animal é cativo
mas é um bom companheiro
mas o dono é carniceiro
do animal encostado
depois de velho e cansado
pra manutenção da casa
se aposenta na brasa
o boi de carro enfadado.

Se caso você já foi
um trabalhador braçal
ou criador de animal
como por exemplo o boi
peça a Jesus que perdoe
pelo seu mal praticado
em um animal deitado
bateu que deixou doente
só porque é inoscente
o boi de carro enfadado.

Se o boi manso falasse
pedia para o seu dono
que não lhe desse abandono
nem marchante lhe matasse,
com a faca não sangrasse,
quem foi tão escravizado
mas o marchante malvado
fazendo papel de gangue
sangra só pra ver o sangue
do boi de carro enfadado.

Se eu fosse um açougueiro
como muita gente foi
não assassinava um boi
nem para ganhar dinheiro
o boi é um companheiro
e faz o nosso mandado
ficando debilitado
ganha uma faca na "guela"
e termina na panela
o boi de carro enfadado.

Lucas Correia de Almeida, 27.12.11

Não sou manso, sou educado

A mulher que me casei é tão bonita
que por ela me sinto apaixonado
um mês junto e outro separado
acontece comigo e a maldita
todo mundo que passa lhe palpita
quando ela se senta na calçada
sai dez horas e vem de madrugada
toda cheia de talo de capim
quanto mais ela bota ponta em mim
mas eu sinto paixão pela danada.

Sete horas  da noite ela se troca
sai pra rua banhada de perfume
e eu fico morrendo de ciúme
todo canto chego tem fofoca
quase toda calçada uma maloca
e só olham pra mim dando risada
eu escuto, mais finjo não ver nada
tudo quanto eu fizer ainda sou ruim
quanto mais ela bota ponta em mim
mas eu sinto paixão pela danada.


Com dezoito de idade eu arrumei
uma baita garota de menina
mas não meço com trena pequenina
o tamanho das pontas que levei
arrumou um namoro com um gay
saia curta, batom, unha pintada
quando volta pra casa é enfadada
no cabelo formiga de cupim
quanto mais ela bota ponta em mim
mas eu sinto paixão pela danada.

Toda noite de festa se prepara
quando o dia amanhece é que ela chega
com um cheiro de borra de manteiga
e com marca de unha pela cara
arranhada da ponta de uma vara
e a blusa também toda manchada
se eu for reclamar fica zangada
é o jeito que tem viver assim
quanto mais ela bota ponta em mim
mas eu sinto paixão pela danada.

Toda noite na porta chega um carro
atrapalhando meu sono com a buzina
ela sai parecendo uma menina
um isqueiro e um maço de cigarro
na batata da perna só tem barro
quando ela retorna da parada
não viu alma mas vem arrepiada
e com cheiro de bafo de saguim
quanto mais ela bota ponta em mim
mas eu sinto paixão pela danada.

Lucas Correia de Almeida, 27.12.11

Minha primeira namorada

A primeira namorada
Que tive na minha vida
Tinha uma perna encolhida
A outra foi amputada
Era preta e desdentada
Um metro e dez de altura
Noventa e seis de largura
Todo parente é obeso
Noventa e oito é o peso
Dessa linda criatura

Eu fui dar um beijo nela
De dois dentes que ela tinha
Pensei que não um já vinha
Encalhado em minha goela
Pra quem já era banguela
Sua arcada ficou pouca
É baixa cambota e mouca
Com tudo se aperreia
Quase toda lua cheia
Tem uma crise de louca

Tem oito dedos na mão
Cega do olho direito
Certa vez perdeu um peito
Após uma operação
Perdeu também um pulmão
Falta um lado de um nariz
Não fechou a cicatriz
Ou tudo isso encontrei
Ou então exagerei
Nessa pesquisa que fiz.


É gorda baixinha e preta
Tem sua coluna torta
Quase não passa na porta
Por que a perna é zambeta
Tem a boca de gaveta
Cabeça grande e careca
A orelha de peteca
Cada olho é uma bila
Tem a bunda de muchila
Seu lenço é uma cueca

Essa garota que falo
Inda tem mais um segredo
Não tem unha em cada dedo
Tem esporão como galo
Tem problema de intalo
Quando come passa mal
Almoça e janta mingau
Bebe água num canudo
Mesmo assim com isso tudo
Eu acho ela normal

Ela tinha no pescoço
Sinal de caroço cego
Da furada de um prego
Um braço fino e outro grosso
No nariz tinha um caroço
Maior do que um limão
Em cada pé um rachão
Tinha um defeito no olho
Careca criar piolho
Não tinha visto inda não

Lucas Correia, Água Branca - 27.12.11



segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A criança


Eu sempre adorei criança
A todas vai o meu beijo
Numa criança só vejo
Paz, amor e esperança
Não sabe o que é vingança
Rancor no peito não tem
Essa palavra convém
Que fique no seu caderno
Porque nosso Pai eterno
Foi criança também.

Quisera eu se novamente
Criança como já fui
Mais nada substitui
Uma criança inocente
Criança é uma semente
Que no meu peito germina
Sem precisar de neblina
Crescendo brota e produz
Comparo a Mãe de Jesus
Que também já foi menina

A criança quando nasce
Jesus no céu solta fogo
E manda que grave logo
O símbolo na sua face
Provando que essa classe
É por Deus abençoada
Já via criança sentada
No braço de São José
Sem dúvida criança é
Filho de Imaculada

Se eu pudesse não via
Criança chorar na rua
Sem uma pão e seminua
Morando em periferia
Do meu pão de cada dia
Daria um pedaço a ela f
Feijão para sua panela
Estudo, roupa e remédio
Dava a cada um, um prédio
Pra lhe tirar da favela

Josué de Castro


Josué foi professor
Ciência e geografia
Também fisiologia
Foi um grande idealizador
Foi uma grande defensor
Pela alimentação
Por sua dedicação
Imortalizou seu nome
Foi um herói conta a fome
Lutando em favor do pão

O famoso menestrel
Josué de Castro formado
Deixou seu nome gravado
Na pedra do seu anel
Se nunca foi bacharel
Mas formou-se em medicina
Estagiário na China
Natural de Pernambuco
Terra de Joaquim Nabuco
De Limoeiro e Carpina

Pelo serviço central
O famoso Josué
Foi presidente de fé
Em prol do seu pessoal
Deputado federal
Por lhe acharem capaz
Bom professor,  bom rapaz
Foi contra a desnutrição
Conduziu em sua mão
O premio Nobel da paz

O herói Pernambucano
Assim Josué de Castro
Morreu mas deixou seu rastro
Não tenho duvida ou engano
Mas o destino tirano
Acabou sua esperança
Foi exilado na França
Morreu como um infeliz
Perdeu a vida em Paris
Mas não nos sai da lembrança

Quem me dera


Quem me dera eu ampliar
Todas minhas poesias
Ser um Sebastião Dias
Na hora que vai cantar
Fazer o clube abalar
Com seu trovão de repente
A sua voz estridente
Da sua boca saindo
Fazendo verso tão lindo
Que dói no peito da gente

Seja cordel ou caipira
Sebastião quando canta
A platéia se levante
E todo povo admira
Patativa de Tabira
Orgulho da região
Em troféu é campeão
Não menospreza ninguém
Se a morte pensasse bem
Deixava Sebastião.

A viola


A viola é como gente
Tem boca, cintura e braço
Se a gente sente conasço
Ela sente a dor da gente
Não tem coranção doente
Tem corda mais é sadia
Se uma rebenta um dia
Em um pequeno instante
Seu dono faz um transplante
Sem precisar cirurgia

A viola sertaneja
Com sua cintura fina
É semelhante menina
Tem boca mais ninguém beija
Poá mais bonita que seja
Não perde a fidelidade
Vai ao colo sem maldade
Sobre o feito se coloca
Quando uma baião ela toca
Matando o dono a saudade

A minha caneta é
Uma viola sem corda
Uma barraca sem torda
Mais nela eu tenho fé
Patativa do Assaré
Tem caneta e violão
Com uma toca baião
Com outra escreve cordel
Uma deita no papel
A outra no coração