segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Na sombra do Juazeiro


Cada sombra de um pé de catingueira
Que o gado procura prá descanço
Tem o cheiro da bába de boi manço
E o rasto da vaca campineira
Não esqueço do som da forrageira
E  a nódoa do gado na cancela
Um pedaço de couro e uma cela
Uma espora que era do vaqueiro
Toda sombra de um pé de juazeiro
Tem a foto de um boi deitado nela

Na biqueira da casa quando eu passo
Vejo um cocho que era da engorda
Uma pea de couro e uma corda
Que meu pai usava como laço
Do mourão do curral tem o bagaço
Igualzinho ao batente da janela
Encontrei no munturo uma fivela
E um bisaco de couro de carneiro
Toda sombra de um pé de juazeiro
Tem a foto de um boi deitado nela

Eu chegava no campo a tardinha
Todo gado sentia meu apoio
Só bastava um grito de aboio
Era rápido demais o gado vinha
Uma vaca doente que eu tinha
Não deixava outra reis brigar com ela
Separava ração numa gamela
Uma bola de sal era o tempero
Toda sombra de um pé de juazeiro
Tem a foto de um boi deitado nela

Fui criado na casa da fazenda
Com cheiro do gado acustomei
Com dez anos de idade eu arrumei
Um cavalo que foi de encomenda
O xicote e o jibão foi minha tenda
O alforge servia de panela
O mujir do garrote a Cinderela
O cavalo tornou-se um companheiro
Toda sombra de um pé de juazeiro
Tem a foto de um boi deitado nela

Um cachorro que eu tinha era ensinado
Eu dei sempre valor ao seu trabalho
Ele ouvindo a pancada do chocalho
Já sabia se era do meu gado
Vaca estranha pastando no roçado
O cachorro sozinho tirava ela
Segura no beiço ou na canela
Pra orgulho de quem é fazendeiro
Toda sombra de um pé de juazeiro
Tem a foto de um boi deitado nela

Tem a marca do coxo na calçada
Onde o gado de pai lambia sal
Pai sentado na frente curral
Medicando a bezerra caruada
Na cadeira de couro mãe sentada
Escorria coalhada na tigela
A manteiga fervendo na panela
Quem passasse por lá sentia o cheiro
Toda sombra de um pé de juazeiro
Tem a foto de um boi deitado nela


Na fazenda que foi dos meus avós
Passei lá para ver mais fiquei triste
O alpendre de lá não mais existe
Onde foi a cocheira é aveloz
Só no meu pensamento ouvi a voz
Do meu vô debruçado na janela
A tristeza deixou-me com seqüela
A saudade causou-me desespero
Toda sombra de um pé de juazeiro
Tem a foto de um boi deitado nela

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