segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O migrante


Em janeiro a coisa e feia
O pobre sem paciência
Perde a ultima experiência
Na barra da lua cheia
Não vê barra se aperreia
E começa o desespero
Para ir falta dinheiro
Não dispõe de um centavo
Já sai daqui sendo escravo
Do poderoso usineiro

Foi motivo de emoção
Quando assisti uma cena
Uma garota pequena
Do avô segurando a mão
Dizendo eu não quero ir não
Peço alguém me ajudar
Chegou a se ajoelhar
Pedindo para não ir
Foi necessário intervir
O conselho tutelar

O sertão daqui pra frente
Dessa maneira que vejo
Não vai ter um sertanejo
Pra trabalhar de servente
O vai e vem dessa gente
Está virando rotina
Dá um cheiro na menina
Da esposa se despede
Chorando a Deus ela pede
Seja feliz na usina

Vejo o Nordeste ficando
Deserto como Saara
Porque o povo não para
De viver perambulando
Por semana ônibus levando
Oitenta noventa ou cem
Dessa maneira que vem
A coisa está sem bitola
Professora sem escola
Porque aluno não tem

Nessa peregrinação
Que eu vejo em nosso povo
Viaja não come um ovo
Em casa não deixa um pão
Quando pega a lotação
Sai enxugando o nariz
Acena para os guris
Na hora que vai saindo
Fica a esposa pedindo
Que Deus lhe faça feliz

Que for na zona rural
Vê muita casa sem gente
Cupim comendo o batente
E morcego no frechau
Foi embora o pessoal
Que dessa casa foi dono
Paredes cor de carbono
Por todo canto da casa
Coruja raspando a asa
Como sinal de abandono

A minha avó já dizia
Enquanto vida esperança
Quem tem fé em Deus não cansa
São frases da profecia
Mas espero que um dia
Serão todos devolvidos
Quando irão são iludidos
Tornou-se até um ditado
Quem vai é sempre animado
Voltando os arrependidos

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