segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O Grilo Da Minha Vó


Por minha avó fui criado
Quando dois anos eu tinha
Vó criava na cozinha
Um grilo quase enjeitado
Passava a noite o danado
Cantando uma coisa só
Sentindo na goela o nó
Vô diz não há quem agüente
Eu vou danar água quente
No grilo da tua avó

Quando a gente se deitava
O grilo por desaforo
Dentro de um bogô de couro
O seu baião começava
Vovó do bicho gostava
Ficava junto ao bogô
Meu Vô inchava o gogó
Dizia puto da vida
Vou danar inseticida
No grilo da tua avó

Minha avó criava um grilo
Num buraco da parede
O som do grilo e da rede
Não me deixava tranqüilo
Meu avô zangado com aquilo
Derrubou o caritó
Arrumou veneno em pó
E disse ao neto pequeno
Eu vou é danar veneno
No grilo da tua avó

Aquele grilo danado
Sem deixar ninguém dormir
A noite inteira cri-cri
E vovô encabulado
Se vira pra todo lado
E o bicho no mocotó
Numa rede de cipó
Vou dormir nos matagais
Por que não suporto mais
O grilo da tua avó

Meu avó falou com ela
Pra pulverizar o bicho
Ela disse por capricho
Você já vem com novela
Levantou com raiva dela
E disse eu vou dormir só
Lá nas matas do mocó
Eu vou morar no deserto
Para não passar nem perto
Do grilo da tua avó

O neto se incomodava
Com a cantiga do grilo
Ia dormir um cochilo
O bicho lhe acordava
O meu avó se zangava
Do coitado eu tinha dó
Foi dormir no mororó
Chorando o neto caçula
Pediu meu avô não bula
No grilo da minha avó

Disse meu avô ao neto
Vou sair pisando em brasa
Mais vou sair dessa casa
Por causa daquele inseto
Vou me tornar um sem teto
Lá na pedra do tendó
Depois vou pra Piancó
Pra terra de seu Zé Paiva
Se não eu morro de raiva
Do grilo da tua avó

Meu neto eu já vou embora
Peguei roupa rede e coxa
Já preparei uma trouxa
Vou sair de mundo afora
Mais voltarei qualquer hora
Do brejo ou do moxotó
Eu voltarei aqui só
Para mostrar o que faço
Vou deixar só o bagaço
Do grilo da tua avó

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